Animais como plantadores de florestas

Animais como plantadores de florestas

Por Luciane Borrmann, Labjor/Unicamp

Você sabia que...

Um grande grupo de animais depende dos frutos para se alimentar e muitas plantas, cerca de 90% dentre elas as árvores, dependem do serviço de dispersão realizado pelos animais. Desta forma a dispersão induzida de sementes por bichos pode ser empregada como técnica para restauração ecológica e enriquecimento vegetal de fragmentos degradados, o que ocorre em maior parte da Mata Atlântica.

Eduardo Delgado Britez Rigacci avaliou em sua pesquisa A fauna frugívora resiliente de um fragmento florestal degradado e seu papel no enriquecimento da vegetação o potencial de dispersão das sementes pelos animais existentes na MSG através de comedouros com frutos como forma de melhorar e recuperar ambientes naturais na sua tese de mestrado em Ecologia pela Unicamp, de 2019. Ao se pensar em restaurar fragmento de mata ou diversas outras áreas deve se levar em conta a interação ecológica, ou seja, não só replantar árvores mas aquelas que podem servir de alimentos para animais frugívoros. É importante pensar que a dispersão por frugivoria é fundamental nos trópicos e pode auxiliar bastante no processo de restauração florestal, onde para cada local deve ter uma estratégia de ação.

                                                                                                 

Foto 1: Animais como plantadores de florestas.   Fonte: Acervo do pesquisador

A ideia do trabalho foi utilizar a fauna resiliente que se encontra em pequenos fragmentos de mata e disponibilizar  frutos alvos que esses animais vão ingerir e  depois ao defecar dispersar as sementes na mata ou próximo dela,  ou em outros locais que são favoráveis para o desenvolvimento dessas plantas ajudando a aumentar a distribuição geográfica e  fazendo que elas se estabeleçam longe de inimigos naturais. Essas árvores vão crescer e gerar novos indivíduos férteis e assim produzir novos frutos e mais alimentos para esses frugívoros, melhorando inclusive a  qualidade do habitat para  a chegada de novos animais.  Esse ciclo gera um enriquecimento tanto da flora como da fauna. Durante um ano as mais de 36.000 horas de gravação registraram por câmeras de ativação de movimentos a visitação dos animais nos 15 comedouros espalhados ao nível de solo e 15 suspensos. Para atraí-los foram oferecidos vários tipos de frutos nativos de espécies zoocóricas nos recipientes. Pôde-se observar quem eram os animais frugívoros que estavam se alimentando, quanto consumiram e qual a frequência das visitas. Constatou-se que maio foi o mês de maior visitação por ser a época de menor frutificação das espécies zoocóricas no local de estudo.

                                                                                                       

Foto: Os dois tipos de estações de amostragem, com os comedouros de frutas artificial colocados no solo (A) e sobre um poste de madeira (B) e a câmera para registrar a visitação. Fonte: Acervo do pesquisador

Das 22 espécies de frugívoros que apareceram para comer, o sabiá-barranco (Turdus leucomelas), o macaco-prego (Sapajus nigritus) e o teiú (Salvator merianae) foram as espécies que ingeriram a maior riqueza de frutos. O gambá (Didelphis albiventris) foi o visitante mais assíduo, mas na maioria das visitações realizou comportamento de despolpe do fruto, deixando as sementes nos comedouros.

  

Foto: O guloso macaco prego ( Sapajus nigritus). Fonte: https://www.facebook.com/matadesantagenebra/photos

Foto: Gambá (Didelphis albiventris), o visitante mais assíduo. Fonte: https://mundo-animal.fandom.com/pt/wiki/Gamb%C3%A1

 

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